O crescimento intenso da internet permitiu que novas maneiras de divulgação de ideias fossem criadas e espalhadas pela rede. No universo da moda, o instrumento mais utilizado pelos “fashionistas” – termo usado para se referir à pessoa que gosta de moda – são os blogs. A ferramenta está agradando devido à praticidade, descontração e informalidade dos textos. Os jovens começaram a aderir a essa nova forma de pregar moda, que é o inverso das clássicas e caras publicações de revistas do mundo fashion.
Milhares de pessoas que têm sede por tendências e informações sobre moda buscam alguém autêntico, que entenda do assunto, para seguir as dicas postadas no blog. Moda se tornou um dos assuntos mais abordados nas redes sociais no momento. Seja pela 33º edição do São Paulo Fashion Week Verão 2013, que ocorreu no período de 11 a 16 de junho, seja porque foi descoberta a identidade da blogueira Titia Shame. Ela foi responsável pelos posts do blog Shame On You, e usava a ferramenta para criticar blogueiras famosas. Também pelo mercado que se formou por conta do crescimento do número de blogs que tratam desse tema, com caros anúncios e publieditoriais – blogueiros recebem pagamento para elogiar um determinado produto.
Posso escolher o [blog] que mais me convém, sem problemas com recursos financeiros ou precisar sair de casa.”
O estudante Guilherme Morais, 19, prefere seguir a moda por meio dos blogs por causa da praticidade da ferramenta. “Blogs são mais acessíveis. Outra qualidade é o leque gigantesco na rede. Posso escolher o que mais me convém, sem problemas com recursos financeiros ou precisar sair de casa. Confortável e barato”, compara.
A estilista Daniela Graciano alerta para cuidados que devem serem tomados ao seguir um blog de moda. “O que devemos nos atentar é a procedência e o conteúdo. Muitas pessoas acabam confundindo o ‘falar sobre moda’ e o ‘falar do que gosta’ ou da própria vida, como um ‘diário’, sem conteúdo relevante.” Ela dá dicas de pontos importantes de um blog de moda. “Além de imagens de blogueiras mostrando seus looks, deve conter imagens de desfiles, campanhas, roupas, vitrines e looks de pessoas nas ruas. Tudo isso para comprovar o que é tendência.”
Eu gosto de seguir blogs que tenham todos os tipos de informações.”
Qualquer pessoa (com ou sem formação em moda) pode criar e “produzir conteúdo”, que às vezes não é original. Por isso, a estudante Aline Fujii, 22, explica como seleciona os blogs que segue. “Alguns possuem informações erradas ou desatualizadas. Eu gosto de seguir blogs que tenham todos os tipos de informações, como looks do dia, tendências, beleza ou curiosidades sobre o que os famosos estão usando.”
Responsável pelas publicações do blog Little Bird, a blogueira Well Pizzi também tem a própria marca de camisetas, que carrega o mesmo nome do blog. “A [marca] Little Bird veio primeiro e depois o blog, na verdade uma sequência, o blog foi criado para a divulgação das tees [camisetas com estampas diferenciadas] e para mostrar as pessoas que é possível estar na moda usando uma t-shirt.” Além de blogueira e empresária, Well Pizzi trabalha com eventos de moda. “Não acredito que ser blogueira será minha profissão principal, mas com certeza fará parte da minha vida por muitos anos.”
Revistas de moda ainda conquistam fãs
Apesar da propagação dos blogs e das previsões de fim das publicações em papel, alguns jovens preferem os impressos
THIAGO BULHÕES
Aluno de jornalismo
“O fim está próximo!”, previu, de forma apocalíptica, o magnata francês Arnaud Lagardère. Dono do grupo Hachette Filipacchi Médias (HFM), o maior editor de revistas do mundo (com 260 publicações), Lagardère disse em entrevista ao jornal francês Journal du Dimanche (de 17 de setembro de 2009) que dá aos jornais prazo máximo de dez anos de circulação. Àqueles veículos que exigem maior cuidado, como publicações femininas, um pouco mais de tempo. Mas fez questão de afirmar que estão todos por vias de acabar.
Em tempos cibernéticos, talvez o magnata até tenha razão. Afinal, a atual geração, nascida em meio à revolução que a internet tem causado, opta por vasculhar a rede em busca de informação a gastar tempo e dinheiro com revistas. No caso da moda, isso se torna mais frequente, já que o fenômeno dos blogs voltados para esse tipo de conteúdo tomou conta da rede. Mas, ainda assim, há quem opte pelas revistas fashions.
Não há mais nada de interessante pra se ler [nos blogs], a não ser que você seja uma garota estúpida que quer saber das últimas tendenciazinhas”
O estilista Vinícius Silvestre, 24, é daqueles que preferem folhear revistas a passar o mouse em um blog. Fã das tradicionais “Vogue”, “Elle” e “Mag”, ele se diz desacreditado dos blogs, pois há muita propaganda e conteúdo extremamente superficial. Silvestre ressalta que as revistas, além de trazerem tendências dos grandes criadores, têm “repertório visual, em geral, bastante lúdico e criativo”, que inspira suas próprias criações. O estilista admite já ter acompanhado blogs de grandes jornalistas do ramo, como Maria Prata e Regina Guerreiro, mas ressalta que, hoje, não há mais nada de interessante para ler nessas páginas. “A não ser que você seja uma garota estúpida que quer saber das últimas tendenciazinhas”, provoca.
Faço da ‘Vogue’ minha principal inspiração”
Outra que se diz avessa a esse tipo de conteúdo é a arte-finalista Areia Ocampos, 19. Admiradora do estilo mais clássico de se vestir, ela acompanha com frequência o que é publicado na “Vogue”, revista da qual é leitora desde os 15 anos. “Faço da ‘Vogue’ minha principal inspiração. Até no meu trabalho, quando estou sem ideias, folheio a revista e sempre encontro algo interessante.” Areia não acompanha blogs, pois diz acreditar que são espaços sem credibilidade nenhuma. “Prefiro a ‘Vogue’, pois sei que ali tem material feito por especialistas”, ressalta.
É necessário valer-se da credibilidade das revistas para oferecer novos conceitos e ideias”
Ao contrário do que pensa Arnaud Lagardère, o jornalista Vinícius Lima diz não acreditar no fim das revistas. Editor da revista ZAZ, publicação maringaense que trata, entre outros assuntos, de moda, Lima considera utópico o fim das publicações. “Acho ilusão falar em extinção. As revistas impressas sempre vão transmitir mais credibilidade e status [do que os blogs].” Por outro lado, o jornalista reconhece a importância dos blogs, lembrando que os sites podem render ótimas pautas jornalísticas, mas garante que dá para o jornalismo conviver com essa nova forma de se produzir informação. “É necessário adequar-se ao novo meio, deixar os conteúdos de consumo instantâneo para as redes e focar em conteúdos atemporais nos impressos, valendo-se da credibilidade das publicações para oferecer novos conceitos e ideias.” Pelo visto, as revistas só sairão mesmo de cena caso o apocalipse prometido para o fim do ano resolva acontecer. E nesse caso, não há blog que se salvará.